segunda-feira, 7 de junho de 2010

Capítulo 14 - Guatemala 23 graus...


cidade maravilha, purgatório da beleza e do CAOS


Gostaria de começar esse post pedindo pra você fazer uma lista (pode ser mental) das coisas que você gostaria de presenciar durante sua vida.

Pronto?!

Se essa lista inclui os itens: vulcão, terremoto, chuva de cinzas e tempestades tropicais, eu sugiro que você elimine elas agora. Sei lá, joga pro seu inconsciente, guarda numa caixinha e esconde a chave. Tive a experiência de presenciar tudo isso em apenas 3 dias e acredite, no fundo fundo fundo pode ser até um pouco divertido, mas não vale a pena.

A única explicação que eu tenho pra isso é que alguém chegou para um ser superior e disse: “Vamos zuar a Guatemala?”. Até rolam umas teorias de que é culpa da extração de petróleo que os Estados Unidos estão fazendo no Caribe, mas eu prefiro acreditar que os Deuses Maias escolheram a Guatemala pra simular o que vai acontecer em 2012.

Tudo começou (a um tempo atrás na ilha do sol) quando eu estava no shopping aqui perto de casa em uma busca desenfreada por uma camisa do Brasil boa, bonita e barata pra usar durante os jogos da Copa do Mundo. Do nada liga o João (brasileiro que tbm trabalha na Novartis) e diz: “TA CHOVENDO AREIA!”. Digamos que o histórico do João é super favorável no quesito brincar com as coisas mais aleatórias do mundo, e minha reação foi “Menino, vai arrumar o que fazer e para de gastar crédito do celular com besteira”. Eis que eu saio do shopping, na vibe tira teima, e TAVA CHOVENDO AREIA. Na real não era nem areia, eram cinzas do vulcão Pacaya querido, aquele mesmo que quis me matar a um mês atrás. Tudo culpa da lava que jorrava a 1,5km, eu disse KILOMETROS, obrigado.

Foto roubada do Blog da Renata (foto BBC)

Do nada as ruas da Guatemala começaram a ficar negras. Sabe quando neva? Então, só que preto. Sabe quando passam na praia chutando areia com havaianas? Então, só que era constante e caía do céu. Uma experiência no mínimo bizarra. Quem estava acordado acompanhou meu desespero via Twitter. Desespero que foi intensificado a décima potencia quando um amigo nosso, guatemalteco, ligou falando pra gente dormir com a porta do quarto aberta caso rolasse um terremoto a gente poderia escapar mais rápido.

Primeira coisa que me veio na cabeça?! A maravilhosa dica da minha irmã de dormir com uma mochila do lado da cama com passaporte e dinheiro. A vontade era de fazer minha mala e deixar ela já do lado de fora da casa, mas tipo, não rolou. Me contentei com dinheiro, passaporte, computador, câmera, carregadores, mp3 e confesso que ainda botei um perfume la dentro. Sei lá né, vai que rola não ter água depois de um terremoto. Comofaz?

No dia seguinte fui caminhando pra Novartis com um tapete negro estendido sob meus pés. Todo mundo só comentava o que aconteceu, rolavam boatos de que não ia ter trabalho, de que ia chover mais areia, que o país estava decretando estado de calamidade pública. No final das contas liberaram a gente mais cedo do trabalho por conta do perigo. Como a minha casa não tem lage e eu não me sinto seguro aqui, fui pro shopping outra vez. A noite chegou, minha casa continuava de pé e eu fui dormir feliz com o barulho da chuva caindo direto na telha, e logo depois na minha cama (obrigado goteira nos pés).

Foto roubada do Blog da Renata 2. Estacionamento da Novartis

Mal sabia que essa chuva ia durar mais de 30 horas. O pessoal aqui de casa já tinha o dia todo planejado, saímos pra comprar bebida, íamos fazer um esquenta e depois sair pra despedida de um amigo... Mas quem disse que a Agatha deixou?! By the way, Agatha é uma tormenta tropical que estava avançando do mar pro continente. Tivemos que cancelar a baladénha e ficamos em casa bebendo e nos deprimindo. Pra ajudar, uma amiga liga dizendo que a Sra. Agatha iria chegar à cidade as 3 da manhã e que o indicado era estocar comida e comprar velas. Comida? NO CHECK. Velas? NO CHECK. Mercado aberto? NO CHECK. Desespero? CHECK!

A solução encontrada foi ir correndo, na chuva, até a padaria do shopping (obrigado por existir, te amo). Lá não tinha velas, e o estoque de comida se resumiu a um saco de pão de forma. Depois disso a gente resolveu aproveitar a corridinha na chuva pra ir ao cinema e esperar o mundo acabar.

Acordei no dia seguinte e o mundo não tinha acabado. Agatha broxou e não chegou à velocidade 5 da dança do Créu na Guatemala. Só deixou um rombo de 30 metros de largura e 60 metros de profundidade no meio da capital.

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Mudando da água pro vinho, aproveito o post do CAOS pra falar de AMOR. Ou melhor, deixo o novo episódio de Mira Pues falar de amor em 5 línguas... Enjoy!